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Rodrigo Oliveira

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Autumn Sonnichsen

 

A fala é mansa, os braços têm marcas recentes de queimaduras, mas é outra coisa que chama a atenção durante a entrevista com Rodrigo Oliveira, do restaurante Mocotó: ele não faz referência a si mesmo, nem uma única vez, como chef. É sempre cozinheiro. O que é pra lá de curioso nessa área.

O glamour que a profissão passa (e que, segundo quem entende do assunto, é de muito mais ralação que qualquer outra coisa) faz com que imaginemos profissionais vaidosos. E a palavra vaidoso pode ter duas interpretações. Uma define pessoas que se acham melhores do que as outras. Mas Rodrigo está mais para a outra definição, dada por ele próprio. “Minha maior vaidade é o trabalho, o que me deixa mais orgulhoso de mim mesmo. É ver a casa cheia, as pessoas comendo bem”, diz o paulistano “de coração pernambucano”, como se define, aos 33 anos. O mesmo orgulho se manifesta quando a entrevista é interrompida porque o dono de um restaurante de Maceió, Alagoas, quer conhecê-lo. “Cada vez mais nordestinos vêm e ficam impressionados com o caráter autoral da nossa cozinha. E fazemos tudo para justificar a visita e a viagem.”

Sim, o restaurante de comida brasileira que Rodrigo comanda é um hype, mesmo estando longe do circuito gastronômico badalado de bairros como o Itaim e os Jardins. E, quando dizemos longe, é literalmente: se você não está na zona norte da cidade, onde fica a Vila Medeiros, é preciso caminhar um bocado para chegar até o Mocotó. Mas todo mundo vai. E quem ainda não foi não sabe por que ainda não o fez.

 

"Passei a dar valor para uma roupa lavada e passada à perfeição"

 

O restaurante é como uma extensão da casa de Rodrigo, que morava na mesma quadra, mas se mudou há pouco mais de um ano para não mais que dez minutos dali. Sabe como é, vida de chef e dono de restaurante não é fácil... “Cozinheiros têm um rotina muito particular. Quando está todo mundo de folga, a gente está trabalhando mais. E, quando a gente está de folga, está todo mundo trabalhando. O meu convívio social se dá através do Mocotó”, conta Rodrigo, casado com Lígia, 22 anos, que conheceu... no Mocotó. O pai dela era um cliente habitual que um dia levou a família. E assim se apaixonaram cinco anos atrás, ali mesmo, no salão.

Bom rapaz

A mulher de Rodrigo acompanhou de perto a sessão de fotos. “Gostei de tudo”, disse Lígia, taxativa sobre o primeiro ensaio sensual do marido. “Fiquei com ciúme, claro, quando é o marido dos outros é mais fácil.”

O que Rodrigo mais gosta na mulher, estudante de artes na PUC, é que ela é detalhista, perfeccionista, “mais que eu”, e muito feminina, “especialmente em casa”. Foi por causa dela que Rodrigo diz ter aprendido a tomar gosto pelas coisas de uma casa. “Quando morava sozinho tinha uma pessoa que ia duas, três vezes por semana, e arrumava, lavava, passava, mas do jeito que fizesse estava bom. Passei a dar valor para uma roupa lavada e passada à perfeição”, explica.

A chegada das filhas, Nina Maria, 4 anos, e Maria Flor, 3, fez com que se esforçasse mais para ser presente. “Troquei fralda, dei banho, não teve nada que me intimidou”, diz. Hoje, na casa dos Oliveira quem dá o start no dia é ele. Rodrigo prepara o café da manhã, as lancheiras, acorda uma filha de cada vez, leva ao banheiro e arruma as duas direitinho, não fosse por um detalhe: “Minha esposa fica de cabelo em pé com os penteados. As meninas, duas vaidosinhas, me olham e dizem: ‘Pai, não é assim que a mamãe faz’. Respondo que o meu é diferente porque é mais moderno”.

Brunch na esquina

Como volta tarde do restaurante, Rodrigo só prepara na cozinha de casa o café da manhã. “Adoro. É nossa grande refeição: mesa sempre posta, com cuscuz, tapioca, pão assado na hora, queijo de coalho, batata-doce, bolo de rolo, bolo de fubá...”, conta. Quando consegue folgar, aproveita o dia em algum passeio ao ar livre, “o que as meninas mais gostam de fazer”. Se dependesse dele, tinha mais filhos. “Eu queria mais uma menininha, mas ainda tô tentando convencer a minha mulher, ou pegá-la desprevenida”, confessa, rindo.

Rodrigo é um cara focado na família e no trabalho. Todo o oba-oba que costuma cercar chefs de sucesso, com ele não rola. “A cozinha é uma barreira física. Nenhuma garota vai entrar e pedir o telefone do chef”, explica. Mas entrega que chegam bilhetinhos. “Sabem que sou casado e prefiro entender isso mais como um gesto de carinho do que como assédio.”

 

"Troquei fralda, dei banho, não teve nada que me intimidou"

 

Por mais de uma vez Rodrigo foi eleito o melhor chef ou teve a casa escolhida como melhor restaurante de cozinha brasileira. Também pôs o Mocotó entre os 101 melhores restaurantes do mundo pela revista americana Newsweek. Mesmo com tantas façanhas no currículo, ele conta em tom de brincadeira que já perdeu a esperança de que o pai, José Oliveira de Almeida, dê o braço a torcer para o sucesso do filho à frente da casa que criou há três décadas. Com 75 anos, seu Zé está sempre circulando pelo salão. De fato, o caldinho de mocotó continua o mesmo. Mas o Mocotó Restaurante e Cachaçaria, quanta diferença...

Novidade fresquinha: este mês, Rodrigo abre o Esquina do Mocotó, no lugar onde o próprio nome diz. “Também será brasileiro, sou devoto do sertão e conservo a alma. Mas esse restaurante será mais livre, vamos trabalhar mais com produtos do Cinturão Verde”, adianta o chef, que servirá brunch na nova casa. Lembra que Rodrigo adora café da manhã? Imagine só o que vem por aí.


Daniel Rocha

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Christian Gaul

De volta à TV em sua segunda novela das 9, Amor à Vida, Daniel Rocha conta como a namorada o ajuda com o personagem e diz gostar de uma DR

O dia começa beirando os 10 graus, temperatura nada animadora para quem vai tirar a roupa dali a poucos minutos. Mas Daniel Rocha parece não ligar. Tira. Pula. Sobe. Molha. Quebra. Sem hesitar atende a todos os comandos do fotógrafo durante a sessão das fotos que ilustram estas páginas. Nem mesmo o vento gelado é suficiente para inibi-lo: sem camisa, joga água na cabeça para mais um clique.

Horas antes, no carro, a caminho da locação, ele estava de blazer azul confessando ter se desacostumado ao frio de São Paulo, onde nasceu. Há um ano e meio, Daniel se mudou para o Rio de Janeiro para trabalhar. O trabalho em questão era sua estreia na TV, na novela Avenida Brasil. “Estava quase desistindo da profissão, depois de tantos nãos [em um papel em Malhação e em campanhas publicitárias]. Quase não fui ao teste de tão desanimado. Só resolvi ir porque o texto para decorar era pequeno”, lembra.

Ele sabe que foi graças a essa decisão que sua vida mudou. Com o sucesso da novela, aos 22 anos ele não passa mais sem ser notado. Tem propostas de trabalho e fã-clubes. “Algumas meninas adicionaram até meu pai no Facebook!”, conta. E o pai conta que aceita todas as solicitações. “Gosto muito. Elas se preocupam com o meu filho, mandam fotos. Quem não gostaria?”, diz Cledson Azevedo.

Amor e morte

A fama também rendeu a Daniel notas em portais de fofocas, especialmente agora, que está namorando. Ele diz não se importar com os flagras, mas não perde a deixa: “Claro que é mais interessante me fotografar beijando minha namorada do que no Graacc [Grupo de Apoio ao Adolescente e à Criança com Câncer] estudando para o personagem. Seria ingenuidade pensar o contrário”.

Escalado para viver um médico oncologista na nova novela das 9, Amor à vida, Daniel fez laboratório em lugares como o Inca (Instituto Nacional de Câncer). Foi assim que conheceu, há três meses, a namorada, Rafaela, estudante de medicina. “É muito difícil lidar com a morte. Ela está me ajudando a entender melhor tudo isso”, explica.

 

"Não fujo de DR. Muitas vezes sou eu que começo a falar. Gosto de mulher com personalidade forte"

 

Diferente de muitos homens, ele admite que gosta de discutir a relação. “Não fujo de DR. Muitas vezes sou eu que começo a falar. Gosto de mulher com personalidade forte, que se eu digo A ela diz B, assim os dois lados têm que tentar mudar para se adaptar um ao outro”, esclarece. Uma das brigas frequentes é na hora de pagar a conta. “Quero pagar sempre e, quando ela quer dividir, é difícil aceitar. Mas a gente se resolve e muitas vezes ela paga a conta inteira.”

Violino e kickboxing

Filho do meio de um dentista e de uma empresária, Daniel cresceu em uma família tradicional no bairro do Ipiranga, na zona sul de São Paulo. Ainda criança, fazia aula de violino – instrumento que toca até hoje – e de jiu-jítsu, maneira que encontrou de intimidar os meninos mais altos na escola, já que sempre foi baixinho (hoje tem 1,75 metro). Aos 14 anos, já era campeão brasileiro de kickboxing, esporte que praticou até os 18, depois de conseguir títulos nacionais e sul-americanos. Largou a luta quando entrou no grupo de teatro Macunaíma, comandado pelo diretor Antunes Filho.

Foram quase quatro anos, com 6 a 10 horas diárias de prática. Em 2011, durante uma aula, ele e Antunes discutiram – fato corriqueiro, já que o diretor é conhecido pelo gênio forte –, mas dessa vez Daniel pegou suas coisas e não voltou mais. “Não me lembro por que discutimos, já estava no meu limite. Não me arrependo, mas um dia crio coragem e procuro o Antunes. Nunca tive a oportunidade de falar para ele que tudo que sei devo aos anos que passei por lá”, revela.

Poucos meses depois, surgiu o teste para Avenida Brasil. Pela sinopse, Roni, o personagem da novela, era um jogador de futebol apaixonado pelo melhor amigo. O ator, evangélico (o pai, além de dentista, também é pastor da igreja Assembleia de Deus), diz ter encarado numa boa a ideia. “Torci muito para que tivesse rolado um beijo gay. Seria uma descoberta importante para o personagem, uma amizade que de repente viraria amor”, conta. O pai completa: “Quando ele me contou sobre o personagem, não vi problema. Sempre ensinei para o Daniel que é preciso fazer o seu melhor em tudo. Era a vez de ele mostrar a que veio na profissão”.

O ator Otávio Augusto, que interpretou Diógenes, pai de Roni na trama, elogia o comprometimento de Daniel. “Ele é muito talentoso e aplicado. E isso é de uma importância tremenda para um ator. Não foi à toa que o personagem foi um sucesso." 

 

 "Não tenho medo de acharem que sou só mais um rostinho bonito."

 

Rostinho bonito

Empolgado, ele entrega que o ensaio para a Tpm aconteceu no momento certo. “No fim de Avenida Brasil, estava mais gordinho. Agora, estou correndo 40 quilômetros por semana na academia.” Em seguida, jura que não é muito vaidoso. “Gosto de me vestir bem. Minha vaidade para por aí. Não passo nada no rosto, por exemplo.” A barba por fazer o deixa ainda mais atraente. O rosto desenhado e o olhar expressivo fazem justiça ao título de galã. “Não tenho medo de acharem que sou só mais um rostinho bonito. Sei que tenho muito mais para mostrar.”

Pedro Oliva

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O “louco da cachoeira” Pedro Oliva não tem medo de saltar quedas-d’água gigantes a bordo de um caiaque - e encara as lentes da Tpm sem pensar duas vezes

O atleta de caiaque extremo Pedro Oliva é aquele cara gente fina, típico menino do interior que deixa todo mundo à sua volta confortável. De Havaianas e bermuda, o kayaker nascido e criado em São José dos Campos recebe a Tpm em Extrema, fronteira de Minas com São Paulo, no sítio onde ele se hospeda para treinar na região. Mal descemos do carro e ele já entrega um sorrisão e uma flor para cada uma das três meninas da equipe. Também não demora em empolgar todo mundo, homens inclusive, com a notícia de que havia planejado um piquenique com queijos, frutas, sucos e vinho na beira do rio onde mais tarde faríamos as fotos. Pronto. Entre uma brincadeira e outra, já estamos todos à vontade. Embora menos à vontade do que o próprio Pedro, que de cara responde à sugestão da stylist para experimentar as peças: “Pode ser aqui mesmo?”.

Com desenvoltura de dar inveja a qualquer participante de reality-show, em poucos segundos ele prende uma toalha branca em volta da cintura, tira a camiseta e troca o short por uma sunga preta na área da churrasqueira. Mostra, sem crise, o corpo salpicado pelas tantas horas sob o sol e definido pelas quase duas décadas de esportes radicais. Aos 30 anos, Pedro Oliva é hoje um dos maiores canoístas do planeta, que vive percorrendo para saltar quedas-d’água. Sua modalidade, consiste em remar a bordo de um caiaque de 2,40 metros por correntezas que desembocam em uma cachoeira e “surfar” nessa cachoeira até mergulhar no poço.

Em 2009, Pedro conquistou o recorde mundial (superado em 2010 por Tyler Bradt) de sua categoria ao encarar a queda de Salto Belo, no Mato Grosso, com quase 40 metros de altura.

Na ocasião, Pedro ficou conhecido como o “louco da cachoeira” entre os colegas – afinal, para quem olha de fora, encarar uma queda-d’água desse tamanho em um caiaque só pode ser coisa de doido. Mas ele defende que, de loucura, a prática não tem nada. “Explorar um rio envolve uma série de estudos. É tudo bem pensado e calculado. Se passa do nível de risco, a gente deixa de saltar a cachoeira e vai para a próxima.”

O canoísta americano Ben Stookesberry é um dos grandes companheiros de expedição de Pedro e se lembra bem do dia em que o amigo conquistou o recorde. “Depois da queda, ele ficou mais ou menos 1 minuto desaparecido. Quando já ia entrar na água para tentar ajudar, ele apareceu de volta, sem nenhum arranhão. Só entendemos a dimensão daquilo meses depois”, conta. Ao lado do também esportista Chris Korbulic, Ben grava com Pedro o programa Kaiak, que vai ao ar pelo canal pago Off. As aventuras do trio também passam no quadro “Planeta extremo”, do Fantástico, e no “Senhores das águas”, dentro do Esporte espetacular.

Em terra firme

O caiaque ocupa um espaço grande na vida de Pedro. O maior deles. “Fico mais ou menos 220 dias por ano fora de casa. Nas viagens, é muito difícil passar mais de duas noites em um mesmo lugar. A única rotina é preparar o carro à noite para partir de manhã”, diz. No tempo restante, o esportista corre para São José dos Campos, onde vive com a esposa, Kemeli Mamud, 30 anos, a filha recém-nascida, Petra, e o primogênito, Kaike, 10, do primeiro casamento do esportista.

Petra nasceu no dia seguinte à produção das fotos que estão nestas páginas. Havia o risco de o bebê vir ao mundo no instante em que ele posava – mas nem isso abalou a calma do rapaz. “A Kemeli é tranquila. Ela sabe que, se acontecer, pode me ligar que eu volto correndo para São José [a 135 quilômetros de Extrema].” A própria Kemeli confirma, por telefone, ainda da maternidade: “É supersimples, ele estava a uma hora daqui... Se acontecesse alguma coisa, eu poderia contar com ele”.

A paternidade, a propósito, não o fez repensar o es­porte e a vida na estrada. Pelo contrário: “Tive mais garra depois dos filhos, mais disciplina. Por mais que eu fique muito tempo fora, quando volto posso agregar muito mais à vida deles. Eles me trouxeram um balanço, que é a força pra seguir”.

 

"Fico mais ou menos 220 dias por ano fora de casa"

 

Kemeli encara a distância numa boa. Ao contrário do marido, que conheceu na época do ginásio, não viaja a maior parte do ano, mas fica tranquila em terra firme. “A gente confia muito um no outro. As viagens fazem o Pedro ser como ele é, gosto dele assim. E ele volta cada vez melhor, o reencontro é uma delícia”, conta.

O relacionamento deles, por sinal, começou justamente em um reencontro na África do Sul em 2010; ele em expedição, ela em missão da Secretaria Municipal de Educação. “O Pedro era o menino mais bonito do colégio”, relembra Kemeli. “O mais marrentinho, uma gracinha. Não passava batido de jeito nenhum.” E ainda não passa.

Pedro veste Bermuda Blue Man Sunga Mar Rio John Billabong Relógio Red Nose Equipamentos acervo pessoal Assistente de foto Fernando Fuchigami Estilo Anna Kanji

TripTV #32: Daniel Rocha

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O TripTV desta semana mostra os bastidores do ensaio fotográfico da revista Tpm com o ator Daniel Rocha, o Rony, da novela Avenida Brasil. Daniel também conta detalhes da sua trajetória, relembra os tempos de campeão brasileiro de kick-boxing, fala sobre seu gosto por violino, música clássica e cinema e ainda revela que sofria com o bullying na escola.

Esse vídeo é parte integrante do TripTV #32

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TripTV, o programa semanal da Trip, vai ao ar pela Mix TV todos os sábados, às 23h, com reprises às terças, às 23h30, e quintas, às 23h45 

#cuecaday

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Hoje é o #lingerieday na internet. Nessa data mulheres tiram fotos de roupas íntimas e postam nas redes sociais, principalmente no Twitter, onde surgiu a ideia. 

Como não temos preconceito, criamos a nossa versão com os musos que já saíram nos ensaios da Tpm, o #cuecaday.

Deleite-se com a galeria e escolha o seu favorito.

Rafael Infante

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É assim que o ator Rafael Infante é chamado nas ruas desde que um vídeo do Porta dos Fundos com mais de 5 milhões de visualizações o mostrou vivendo uma inusitada versão do Todo-poderoso. A convite da Tpm, uma colega de elenco conta tudo o que sabe sobre ele

Ao ser convidada para escrever este texto sobre o Rafael Infante – aliás, muito esquisito chamá-lo de Rafael; então vou dizer Rafa Infante –, eu pensei: “Oba! Que delícia!”. Já conheço o Rafa há alguns anos, desde seu começo no site Anões em chamas, quando ele gravou seu primeiro vídeo para a internet, bem antes de ser chamado de “Jim Carrey brasileiro” ou, como prefere o diretor do Porta dos Fundos, Ian SBF, o “Jack Nicholson brasileiro”.

Antes de escrever, marquei de bater um papo com o Rafa no Shopping da Gávea, no Rio, onde ele está em cartaz com a peça Rain Man (na qual ele vive o papel que foi de Tom Cruise no cinema, sob a direção de José Wilker). Pouco antes do horário combinado, recebi a mensagem de que ele se atrasaria um pouco: ele estava esperando a entrega de um armário novo para a cozinha. Achei tão fofo imaginar o Rafa escolhendo um armário com a (futura, logo, em breve) mulher para a casa nova, pensando nos detalhes da organização e ainda esperando para receber o móvel em casa!

Chegando no shopping, ele avisou que precisava comprar incensos, pra quando chegasse em casa, à noite. Eu já sabia do lado zen do Rafa, mas não esperava vê-lo comprando lembrancinhas para a amada e coisinhas cheirosas para a casa. Outro dado importante: o Rafa é muito relax. Despojado a ponto de chegar de mãos abanando, nenhuma mochila ou bolsa, nada. Tudo o que ele precisava já estava no teatro.

Barata Flamejante

Rafa Infante, 27 anos, não pensava em ser ator quando estava no colégio. Achava que teria qualquer outra profissão, só não sabia qual. E quando chegou a hora de fazer faculdade escolheu cinema. Na faculdade ele logo notou que seus interesses sempre eram levados para as coisas que diziam respeito à atuação. Ele queria sempre saber “mas e o ator nessa história, hein?”. Foi quando se deu conta: era ISSO. Ia ser ator. Mudou para a faculdade de teatro e foi chamado para um teste por um grupo de teatro de improvisação. E é aqui que eu e Ian SBF entramos na história: fomos chamados 
para assistir ao teste dos candidatos e opinar. E então... tchan, tchan, tchan, tchan! Vimos Rafa, ainda de cabelo grande, e sua imitação impagável de Silvio Santos.

Bom, nem precisava dizer que ele foi o escolhido. Mas vou dizer: ele foi o escolhido. E sua fama de improvisador genial logo se espalhou. “O improviso expande a consciência do ator”, ele diz. E o improviso, para ele, é questão de treino – é malhar o cérebro, que aprende as técnicas e fica mais ágil.

Logo Ian o convidou para fazer um vídeo no seu site Anões em chamas, do qual eu também fazia parte. Outros vídeos vieram, depois o Rafa participou de programas para o canal Multishow, como o Barata Flamejante, em que eu, além de atriz, também fui diretora de arte e figurinista. Ou seja, convívio intenso. E então surgiu o Porta dos Fundos, que foi onde tudo aconteceu pro Rafa. Que fique claro: ele é um ator que faz humor, e não um comediante. Faz drama e outros gêneros tão bem quanto comédia.

Cantor e compositor

A presença do Rafa nos sets traz alegria sempre. Com ele não tem tempo ruim, mesmo quando descobre que terá o corpo todo pintado mais uma vez. Explico: Ian está sempre escalando o Rafa para personagens que são muito caracterizados. No Barata Flamejante, o ator fazia o personagem Salamandra, um cara que acreditava ser um super-herói e cujo suposto superpoder era o de se camuflar no ambiente. Então, em todas as cenas ele estava pintado exatamente como o cenário. Rafa passava o dia inteiro de sunga e touca de natação, e o resto era pintura. Teve uma cena em que ele comia uma coxinha numa lanchonete, e a coxinha era pintada junto.

Ian diz que o Rafa tem um humor muito físico, corporal, que funciona muito. Até hoje, no Porta dos Fundos, esses papéis o perseguem. No vídeo Parabéns, por exemplo, o Rafa entra de palhaço. Reparem: é o único que está caracterizado e isso torna a situação mais engraçada. Quase sempre é só ele quem está pintado. Quando participamos de um evento em São Paulo, resolvemos apresentar esse esquete ao vivo. Lá foi o Rafa, de novo, ser o único palhaço coberto de tinta. Mas, como diz o Ian, “no final ele gosta”.

 

É um ator que faz humor, e não um comediante. Faz outros gêneros tão bem quanto comédia

 

E ele também se vinga. Uma brincadeira-piada que usa esporadicamente é, conversando com alguém, dar tchauzinho e cumprimentar uma pessoa, como se existisse alguém ali. Só que é sempre alguém imaginário. A (futura, logo, em breve) esposa, Tati, diz que não cai mais nessa. Eu caio todas as vezes, mas finjo que não. Outro talento dele? Criação de letras de músicas. Engraçadíssimas. A mais famosa tem conteúdo que eu não posso escrever aqui (podem me perguntar no Twitter que eu conto). Algumas acabam virando músicas de set, e todo mundo começa a cantar e a colaborar com a letra. Outras até entram pro vídeo, como o funk do Capitão Gancho, que rendeu clipe só dele. Cantor e compositor, Rafa já teve até uma banda, a Preto Tu. Ele e Tati, aliás, compõem juntos. Fofo, não?

Rola

Tatiana Novaes também é atriz, além de escritora – está escrevendo dois livros, um infantil e outro juvenil. Rafa passa horas falando dela e da relação dos dois. Contou, por exemplo, o quanto a Tati foi fundamental na criação do personagem em Rain Man. Ela sentava para ver a peça e fazia anotações sobre o trabalho dele. O Rafa mudou muito desde que a conheceu. Até tentei, mas não há outra palavra: ele amadureceu.

Eles moram num lugar afastado e sossegado (o Recreio), bem diferente do agito da zona sul, onde Rafa viveu a vida inteira. Lá ele cuida do jardim e até varre a casa quando é preciso. Os dois vão se casar em outubro, apesar de já morarem juntos e de já quererem filhos. A madrinha do casamento sou eu! O padrinho é o Ian – que o Rafa diz ser “tudo” na sua carreira. “Tudo está acontecendo por causa das oportunidades que Ian me deu.”

 

O colega Marcelo Serrado o define como sagaz, imprevisível, generoso, versátil e galã

 

Sobre as crenças, ele se define como espiritualizado. Acredita na energia das coisas, em astrologia. Está sempre falando de coisas místicas e das sintonias do mundo. Apesar de a gente não perceber, ele diz que sempre faz um minirritual mental antes de entrar em cena. Foi esclarecedor saber disso. Por trás do menino inquieto e aparentemente desatento, sempre percebo que na hora da cena ele entra com uma força muito grande.

Sempre que temos uma cena juntos, nos preocupamos um com o outro e perguntamos o que o outro acha. Parece um detalhe bobo, mas faz uma diferença enorme. No vídeo Rola, a gente não sabia o que fazer. Lemos o roteiro e não fazíamos ideia de que tom usar. Estávamos gravando numa lanchonete no centro do Rio, e o Rafa me chamou do lado de fora e disse: “O que a gente vai fazer?”. Caímos na gargalhada, tipo “e agora? Como a gente vai fazer isso?”. Daí resolvemos que ele ia oferecer “a rola” do jeito mais natural do mundo e eu ficava com a parte mais difícil, que era ouvir aquilo, mas meio que não entendendo totalmente. A gente não sabia se ia funcionar. Mas nem preciso dizer o quanto ele arrasou, né?

O ator Marcelo Serrado, que divide o palco com ele em Rain Man, definiu o Rafa em algumas palavras: sagaz, imprevisível, generoso, dinâmico, versátil e galã. Ian SBF diz que o melhor é a tal capacidade de expandir o roteiro. “Ele cria em cima das situações e muitas vezes acaba melhorando a qualidade do texto.” E ainda cria cacos incríveis como o “errou feio, errou rude”, no vídeo Deus – um divisor de águas na carreira do ator (que até hoje faz com que as pessoas na rua o chamem de Deus). “Se fossem fazer um Batman brasileiro, o Rafa seria o Coringa sem dúvidas”, completa Ian.

Para encerrar, vou usar o que a Tati contou: quando vai a um restaurante chique aqui no Rio, Rafa gosta de pedir cocô de pombo frito. E diz isso com tanta seriedade, como se fosse uma iguaria francesa, que sempre deixa os garçons constrangidos. Sim, eu vou acabar o texto com o “cocô de pombo frito” pra isso não sair da cabeça de vocês. Mas pra isso eu preciso dar um jeito de a frase terminar com “cocô de pombo frito” de maneira natural. (Droga!) Como se já não bastasse ter dito três vezes... “cocô de pombo frito”.

Felipe Titto

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Na pele do mordomo magia da novela Amor à vida, o ator Felipe Titto em nada lembra o adolescente magrinho e de cabelo black power vermelho que já foi. Aqui, ele fala de paternidade, skate e planos que vão bem além de ser um corpinho bonito na TV

Ele anda de skate, gosta dos Ramones, sabe cozinhar, é bom pai e, o mais absurdo, é este cara perfeito das fotos. Sim, Felipe Titto existe. Além de ser lindo (não, não vamos ser hipócritas: todas as moças presentes no set onde estas fotos foram feitas, em uma tarde de sábado, passaram mal), o intérprete do mordomo Wagner da novela Amor à vida é também um cara que tem muito para falar. Aliás, fala sem parar. Diz que é hiperativo. E aproveita a pista usada como cenário das fotos para matar a saudade de andar de skate (ele tem quatro em casa).

Aos 26 anos, Felipe já fez um monte de coisa nesta vida. “Sou maloqueiro e me sustento desde muito cedo, não tenho frescura com nada. Com 14 anos já fazia meus bicos para ter a minha grana.” Por tudo nesta vida entenda-se ainda: foi ator de Malhação, cozinheiro em Los Angeles, fez um monte de publicidade por aí e teve um filho – sem nunca parar de andar de skate e de zoar com os dois irmãos. “Somos muito unidos, tipo uma gangue.”

O filho chegou cedo, aos 16 anos. E Felipe abraçou a causa. Saiu da casa dos pais, casou, trabalhou, criou o menino. “Meus pais me ajudaram, claro, mas não tivemos dúvidas na hora de assumir. E até que a gente se virava bem.” O casamento com a namorada de adolescência durou dois anos, mas Théo, hoje com 10, é motivo de orgulho do pai. E parece ter herdado os genes da hiperatividade. “Eu aprontava muito na escola, muito, pra caralho. Minha mãe sempre era chamada na diretoria. Com meu filho é igual. 

Quando você vê, tem cinco reclamações”, ele ri. Durante as fotos, sua mãe (com quem fala todo dia) liga para falar sobre Théo e o presente que Felipe receberia no Dia dos Pais, que seria no dia seguinte à entrevista.

 

“Sou maloqueiro e me sus­tento desde muito ce­do, não tenho frescura com nada. Com 14 anos já fazia meus bicos para ter a minha grana”

 

Théo mora em São Paulo com a mãe e passa os fins de semana com Felipe, que está novamente casado – com a arquiteta Mel Martinez – e hoje passa boa parte do tempo no Rio de Janeiro. “Mas minha casa é em São Paulo, é aqui que estão meus amigos e minha vida”, ele diz. Paulista de Cotia, mudou para o Rio aos 18 anos para fazer Malhação e encara a cidade como lugar de trabalho. E só. “Foi muito bizarro quando eu cheguei no Rio. Eu era magrinho, de cabelo vermelho, só tomava bullying. Imagina, aqueles caras bombados!”

Felipe não ligava, não. Porque já era, sim, meio maloqueiro, como ele diz. “Sempre andei de skate, gostei de cultura de rua, de hip-hop e de Ramones.” Já foi até straight edge – a facção do hardcore que prega a alimentação saudável, o não consumo de álcool e de drogas e, em alguns casos, não fazem sexo casual, “sem amor”. Essa parte do sexo Felipe diz que dispensou, mas ele tem o símbolo do movimento tatuado na perna e uma alimentação regrada até hoje. Foi vegetariano por dez anos, nunca colocou uma gota de álcool na boca, nem cigarro, nem nenhum tipo de droga. Para ele, “o corpo é uma máquina que tem que estar bem”. O dele está realmente ótimo.

Felipe não se acha nada galã – assim como não se achava feio quando era magrinho e tinha um cabelo black power vermelho. Tampouco é deslumbrado com o fato de trabalhar na TV Globo. “No dia em que eu fui chamado para Malhação eu tinha, literalmente, acabado de dividir um miojo com um amigo. Eu estava sem dinheiro para nada. Quando me chamaram eu chorei.” Depois do seriado, resolveu estudar em Los Angeles. “Ganhei uma bolsa para um curso de ator, mas fui para lá sem saber falar uma palavra de inglês. Para me bancar, trabalhava em um restaurante como garçom e também fazia delivery em um carro velho, que eu dividia com um amigo. O dono do restaurante foi gostando tanto de mim que acabei chef de cozinha.”

 

“Foi muito bizarro quando eu cheguei no Rio. Eu era magrinho, de cabelo vermelho, só tomava bullying. Imagina, aqueles caras bom­bados!”

 

De volta ao Brasil, fez trabalhos em publicidade, uma ponta em Avenida Brasil e enfim ganhou o papel do mordomo. “Adoro fazer [televisão], mas não sou deslumbrado com nada. Meu sonho não é ser protagonista de novela, queria mesmo ser apresentador de televisão. Um programa meu, com lifestyle, as coisas que penso. Já escrevi o roteiro de um”, diz ele, que nesse ofício admira Marcos Mion, Luciano Huck e Rodrigo Faro.

Sobre o sucesso e a fama de bonitão, Felipe vê uma vantagem bem simples nisso tudo. “Sabe qual é a coisa realmente boa de trabalhar na Globo? Aquelas pessoas que me chamavam de vagabundo porque eu era bagunceiro na escola e andava de skate hoje falam: ‘Nossa, sempre soube que você tinha jeito para ator’.” Felipe Titto é o nerd que conseguiu se vingar.

Martin Mica

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Rosto de marcas como a Benetton, o argentino Martin Mica viveu boa parte da vida em Santa Catarina. Agora, aproveita a vida em Los Angeles, onde anda de skate e estuda pra ser ator

Quase desistimos de colocar texto nestas páginas: as fotos do modelo Martin Mica na Califórnia dispensam comentários. Mas o argentino de 29 anos, que ficou mais famoso no ano passado, por ter namorado a atriz Sharon Stone, merece as devidas apresentações. Ainda criança, em 1991, mudou-se com a família para Balneário Camboriú, litoral norte de Santa Catariana, numa época em que a região estava sendo povoada pelos hermanos. “Foi loucura dos meus pais, venderam tudo em Buenos Aires e foram sem conhecer ninguém. Era muito comum ouvir castelhano na rua.” Meio argentino, meio brasileiro, Martin cresceu na praia e agora continua morando perto do mar, mas bem longe daqui.

Los Angeles, na Califórnia, foi o local que escolheu para morar depois de virar modelo e onde fez este ensaio pra Tpm. Como cenário, as ruas de Venice Beach e um antigo hotel. “Grafite, artistas de rua e gente maluca é normal aqui em qualquer dia do ano. Fotografar no bairro onde moro foi demais, a vibe aqui é fora do comum”, diz. “A equipe se entrosou bem desde o princípio. As ideias foram fluindo e fizemos todo tipo de loucuras ao longo da sessão.” Inclusive andar de skate pelado, coisa que Martin diz já ter feito algumas vezes. “Estávamos fotografando dentro do quarto e eu sugeri fazer uma foto andando de skate no corredor. Tivemos que ser rápidos, antes que alguém chamasse a segurança do hotel”, contou.

 

"Quando abandonei a engenharia foi uma loucura. De repente, estava de cuequinha na frente de uma câmera sem ter ideia do que fazer"

 

Antes de virar modelo, Martin era estudante de engenharia de materiais em Santa Catarina. Como muitos outros colegas de profissão, foi apresentado a um agente e resolveu trocar de vida. Mudou-se para São Paulo e depois para o mundo. Paris, Barcelona, Londres e outros destinos estão carimbados no passaporte do moço. “Quando abandonei a engenharia, tudo parecia loucura. Naquela época eu era um nerd, só estudava, tudo era números e fórmulas. De repente, eu estava de cuequinha na frente de uma câmera sem ter a menor ideia do que estava fazendo. Mas, com o tempo, fui aprendendo e me adaptando.” E aprendeu direitinho. Hoje, com facilidade e experiência de quem já fez campanhas para Benetton, ensaios para a revista Vanity Fair e desfiles para Hugo Boss, ocupa parte da sua rotina com aulas de atuação para TV e cinema. Voltar pra engenharia? “Nem a pau! Hoje tenho outras ambições e a engenharia não se enquadra em nenhuma delas. Mesmo assim, não posso menosprezar tudo o que aprendi nos anos de faculdade. Hoje vejo tudo ao meu redor com outros olhos por causa dos conhecimentos em ciências exatas.” 

Além das aulas de atuação, Martin curte o tempo livre para andar de skate, jogar sinuca ao ar livre no quintal de casa e fazer um som com os amigos – ele toca violão. Eventualmente, curte andar de bicicleta. Seu vizinho de porta em Venice Beach é dono de uma marca de bikes, então Martin o ajuda testando protótipos e dando novas ideias. O Instagram do moço (@martinmica) é cheio de fotos e vídeos que ilustram essa rotina.

O namoro com Sharon, 20 anos mais velha, começou no Brasil, depois de um evento que fizeram juntos. As vindas da atriz ao país ficaram frequentes e muitas vezes a dupla foi alvo de paparazzi, enquanto namorava no Balneário. Solteiro há pouco tempo, ele conta que agora está totalmente focado nos estudos. “Sou muito tranquilo, não saio na rua dando tiro pra todo lado”, diz.


Devendra Banhart

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Jorge Bispo, de Nova York

Tosado e bem vestido para a Tpm em Nova York

Tosado e bem vestido para a Tpm em Nova York

Se existe um novo homem no horizonte, o músico Devendra Banhart, em turnê no Brasil este mês, talvez seja uma espécie de arquétipo: sensível, emotivo, feminino, sem medo de mostrar cicatrizes e incertezas. Em duas palavras, escandalo­sa­mente apaixonante

Ele tinha 9 anos quando ouviu pela primeira vez alguém falar em cirurgia plástica. “O que é isso?”, perguntou a um amigo. E, ao escutar a explicação, ficou horrorizado e sentiu ganas de compor uma música, sua primeira música. Correu para o quarto, pegou papel e caneta, escreveu os versos, esperou que os pais chegassem e anunciou que cantaria para eles. Os dois, e a avó materna, sentaram-se no sofá do apartamento e viram o tal amigo entrar na sala com um Tupperware e uma colher de pau – era a percussão, enquanto Devendra esgoelava-se no refrão: “You don’t need no plastic surgery cuz we’re all gonna dieeeeeeeeee”. Quando acabaram, a avó disse: “Nunca mais deixem esse menino compor”.

Para nossa sorte, Devendra continuou a compor, embora sua segunda criação acontecesse apenas com 16 anos. À época da primeira investida, a família morava na Venezuela, onde ele viveu até os 13 anos. “É engraçado, mas eu tenho pouquíssimas memórias da infância. É estranho isso”, disse quando nos sentamos para conversar durante uma tarde de outono no Brooklin, em Nova York, cenário do ensaio exclusivo que estampa as próximas páginas. “Quando esta entrevista acabar, vou fazer esse trabalho que estou fazendo com uma analista, que é um trabalho para tentar lembrar das coisas.” Enquanto ele falava, eu, esta vergonha para o jornalismo imparcial, já havia me deixado levar e, encantada, apenas escutava. Como não fiz uma próxima pergunta e apenas continuei a olhar abobadamente para aquele homem que na minha frente se abria, ele continuou: “É quase como se existisse esse livro de fotos de minha infância e ele estivesse muito, muito sujo. E quanto menos eu olho para ele, mais sujo ele fica, e quanto mais sujo ele fica, mais difícil é olhar e menos eu quero tentar enxergar, e quanto menos eu quero tentar enxergar, mais sofrido é olhar. 

 

"Não  havia nada de errado em me vestir de mulher"


Entrar nesse mundo é uma coisa emocional e esgotante, mas aos poucos o álbum vai ficando mais limpo... é libertador, sabe? Não é um processo divertido, e eu tenho uma toalha que levo comigo a todas as sessões. Uma toalha que uso para chorar”.

A essa altura do papo, não fosse eu tão convictamente gay, já o teria pedido em casamento, embora esse novo homem, que Devendra representa com exuberância, não acredite em pedidos de casamento ou em qualquer convenção. Esse novo homem sequer precisa de papéis e assinaturas para se jogar de cabeça em uma relação de amor.

Devendra é americano do Texas, mas ainda muito pequeno foi com a mãe para a Venezuela, onde ela nasceu. A infância latina deixou marcas. Foi lá que se apaixonou pela música de Caetano Veloso, João Gilberto, Chico Buarque, Gilberto Gil e Maria Bethania. “Dentro de casa havia essa música para a gente refletir, e fora, nas ruas, havia cumbia, merengue, salsa. Eram dois mundos: o mundo da música de dançar e o mundo da música de pensar.”

Mantra

Reprodução

Devendra brinca nu em foto do encarte do CD da banda Megapuss, da qual ele fazia parte em 2008

Devendra brinca nu em foto do encarte do CD da banda Megapuss, da qual ele fazia parte em 2008

A mãe, ele diz, teve enorme influência no homem que ele se tornou. “Ela é um espírito livre, uma mulher excêntrica, o arquétipo da latina caliente apaixonada. É aquela que em uma festa vai ser a primeira a dançar na mesa, e as pessoas vão parar para olhá-la, uma mulher muito charmosa, o centro das atenções.” Enquanto fala da mãe, seus olhos ficam ainda mais vivos, e ele segue. “De um jeito estranho, a liberdade que a guia e a falta de convencionalidade com que encara a vida foram as coisas com as quais ela me protegeu. Eu sou marginal, e cresci dentro de um certo isolamento que, embora tenha seus problemas, também tem muita liberdade.”

Nesse universo repleto de possibilidades, não havia quem lhe dissesse que talvez não fosse certo usar um vestido da mãe – então ele foi lá e vestiu. “Aprendi muito cedo que não havia nada de errado em me vestir assim. Como minha voz era muito ‘uuuuuu’ [e ele deixa sair um som agudo], eu não soava como um desses homenzarrões. Pensei que, se eu colocasse um vestido e me transformasse em mulher, talvez pudesse cantar.”

Um garoto que coloca o vestido da mãe para cantar não é uma coisa que muita gente vá apoiar por aí, especialmente na Venezuela, tão paternal, tão macha. Devendra existe fora desse padrão: a liberdade com que a mãe encarava a vida permitiu que ele tivesse seu próprio mundo.

Falando sobre esse novo homem, ele diz que espera que nós estejamos perto de entender que pessoas são pessoas e que, dentro dessa prisão emocional na qual somos obrigados a viver, consigamos dizer “hoje quero usar meu salto alto” ou “hoje quero meu coturno” ou até “who gives a shit how I dress?”. Conto a ele de um político brasileiro que recentemente se orgulhou, via Twitter, de nunca ter chorado. “Talvez uns dez anos atrás as pessoas escutassem um homem dizer que nunca chorou e falassem ‘nossa, que incrível’, mas acho que no atual estágio da evolução humana a maioria das pessoas é capaz de sentir empatia por um homem que não chora, de dizer ‘ô, coitado’.”

Como estamos conversando relaxadamente, esqueço que estou ali para fazer uma entrevista. Digo que escutei um mantra havaiano que se baseia na repetição das palavras “perdona-me, lo siento, te amo, gracias”, e ele outra vez me olha com aqueles olhos intensos, que são capazes de desarmar exércitos, e diz que reza todas as noites e todas as manhãs. “Peço para conseguir ser grato. ‘Please, help me be grateful.’ Mas esse seu mantra, uau, que coisa mais linda. Vou anotar”, e pega minha caneta para escrever as palavras no próprio braço.

 

"Lo siento, perdona-me, te amo, gracias"

 

Pergunto se a mãe dele vai aos shows, e ele diz que na recém-terminada turnê americana ela foi a seis. “Mas aí eu disse: ‘Mãe, agora chega, eu preciso tocar, sabe?’. É mais ou menos como ter minha mãe num blind-date. Eu estou no palco e estou de certa forma tentando seduzir, mas com minha mãe ali...” Sobre a turnê brasileira em novembro (dia 13 em São Paulo, 14 no Rio, 16 em Fortaleza e 18 em Porto Alegre), ele acha que dificilmente vai superar, em termos de experiência musical e elogios, o que aconteceu da primeira vez, quando tocou no extinto Tim Festival, em 2006 – época em que ainda usava cabelos longos, gostava de se apresentar sem camisa e era um hippie de visual bem diferente do look “limpinho” que exibe hoje. “Deveríamos entrar à meia-noite e eu soube que Caetano estava por lá. Fiquei nervoso, o show atrasou, entramos lá pelas 2 da manhã, e eu pensei: ‘Pelo menos Caetano não deve mais estar aqui e a gente pode tocar sem ele ver’. Tocamos mal, foi terrível, mas me senti aliviado. Só que aí ele aparece no camarim, camisa fora da calça, e diz: ‘Gente, foi péssimo, e eu amei’. Nada pode superar um elogio como esse.”

Ao final, não resisto e jogo à mesa um clichê: o que ele acha que querem as mulheres? Como ele não é um homem-clichê, não responde o usual “quem sabe?”, e diz sem pestanejar: “Acho que querem consistência, honestidade, alguém que seja capaz de dizer com o coração: ‘Lo siento, perdona-me, te amo, gracias’”. Ai.

Carlos Burle

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De volta à barra da Tijuca, seu habitat natural, o big rider pernambucano conta o sufoco que passou para resgatar Maya Gabeira da morte em Portugal e depois pegar uma das maiores ondas

A história você ouviu. A surfista carioca Maya Gabeira – que está nas Páginas Vermelhas desta edição – caiu numa onda gigante em Nazaré, Portugal, e quase morreu antes de ser salva por Carlos Burle, experiente surfista de ondas gigantes que formava dupla com ela no jet ski. Burle e Maya foram à Europa tentar bater o recorde de maior onda surfada, ao lado de Pedro Scooby e Felipe “Gordo” Cesarano. Acabaram vivendo um perrengue que Burle descreve como “show de horror”. 

Desde que tudo acabou bem, a tensão foi-se embora da voz do big rider. De volta à Barra da Tijuca, cenário das fotos deste ensaio e lugar que considera seu hábitat natural, ele narra com segurança cada momento daquele 28 de outubro. A caída na água, as dúvidas de Maya, a escolha da onda certa. O tombo da surfista, seu sumiço em meio à espuma violenta de Nazaré. A primeira tentativa de resgatá-la no jet ski, frustrada. A segunda, que também falhou. A decisão que tomou, ao ver Maya boiando, já sem sentidos, de largar o jet ski, pular na água, agarrá-la pelas costas e arrastá-la até a areia. “Não foi o melhor resgate, mas foi o que salvou a gente”, lembra.

 

"Fica viva, fica viva. Não morre, senão vou te matar", pensava enquanto ressuscitava Maya Gabeira na praia de Nazaré

 

Na areia, foi ele quem a ressuscitou, massageando seu coração ao ritmo de um refrão dos Bee Gees. “Só pensava em bombar o ‘Staying alive’”, conta. Não é loucura: segundo especialistas, o clássico da era disco dita o ritmo perfeito da massagem cardíaca. “Eu pensava: fica viva, fica viva. Não morre, senão vou te matar.”

A sinceridade que transparece na voz do pernambucano de 46 anos é reflexo de sua personalidade. Ligia, sua mulher há seis anos, confirma. “Tudo que ele faz é genuíno, é acreditando”, diz. O casal tem um filho de 4 anos, Reno Koi, e Burle ainda tem Yasmin, 15. É na Barra da Tijuca, com a família, que o big rider se sente em casa. Quando não está viajando, treina por lá, dá aulas de surf, passeia com o filho na praia. Faz musculação, ioga, stand-up.

“Como bem e faço exercícios porque acho que é melhor manter o condicionamento físico sempre regular. Adoramos dormir cedo, às 10 já tá todo mundo na cama”, ele conta. O condicionamento e a experiência foram decisivos para o salvamento de Maya. A confiança entre a dupla saiu fortalecida. “Quando fui vê-la no hospital, estava receoso. Mas ela me disse: ‘Que bom que a gente pegou aquela onda, eu faria de novo. Se eu morresse, ia morrer feliz, fazendo o que eu amo’. Aquilo me deixou muito feliz”, lembra.

 

"Você é muito mais forte nos exemplos do que nas palavras. Não adianta falar 'fiquem calmos' e perder a cabeça"

 

Depois de salvar Maya, no mesmo dia Burle voltou para o mar e pegou a onda que pode ser a maior já surfada em todos os tempos. Além da sinceridade, a força para ultrapassar limites também parece estar no seu sangue. “Viver com ele é emoção. Ele está sempre inventando alguma coisa pra puxar o limite das pessoas, criando circunstâncias pra você se superar”, conta Ligia. “É assim com o surf, com os filhos”, diz. 

No auge da forma e da experiência, Burle acredita que seu papel é ser exemplo não só para Reno e Yasmin, mas também para Maya, Scooby, Gordo e todos os outros novos big riders que o admiram e o acompanham. “Você é muito mais forte nos seus exemplos do que nas suas palavras. Então é assim que eu procuro agir. Não adianta eu falar ‘fiquem calmos’ e perder a cabeça; ‘tenham coragem’ e não ter. Nesses momentos, eu sou um exemplo pra eles, eu sei disso. Não sou perfeito, erro, sou comum. Mas tenho virtudes também. E eu sou muito mais as minhas virtudes que os meus defeitos.”

Ô, lá em casa especial verão

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Ah, os meninos no verão! Peles mais douradas do sol, barbas mal feitas, sardas ativadas, cheiro de mar...

Para fazer gelar o estômago e arrepiar os pêlos do corpo, a gente resolveu antecipar o clima de férias e trazer à tona nossos musos em momentos "pé na areia" ou na piscina.

Agora sim, já pode agradecer. ;-)

Bruno Gissoni

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Bruno Gissoni, no ar na novela das 9, poderia ter sido publicitário, jogador de futebol, professor de educação física... Só resolveu ser ator depois que conseguiu deixar a timidez de lado. Tímido, Bruno? Sei...

Capoeirista, jogador de futebol, publicitário, professor de educação física... Bruno Gissoni pensou em muitas profissões até se descobrir ator. Depois de morar com a família em Los Angeles por oito anos, voltou ao Rio de Janeiro e começou a cursar publicidade. Em paralelo, iniciou uma carreira como jogador de futebol, o que o levou ao curso de educação física e a integrar times de base cariocas. Entre um curso e outro, jogava 

capoeira sob influência do padrasto, o famoso capoeirista carioca Beto Simas, casado com sua mãe, a produtora Ana Sang, desde 1986. Mas foi graças ao irmão mais novo, Rodrigo Simas, também ator, que se aproximou das artes. “O teatro sempre foi uma curiosidade pra mim, uma vontade, mas eu era muito tímido. No momento em que o Rodrigo começou a fazer, fui me aproximando mais e mais”, conta à Tpm.

Para nossa alegria, ele se deixou levar e estreou na montagem de Capitães de areia, baseada na obra de Jorge Amado, em que precisavam de atores que soubessem jogar capoeira. O talento vem de família, já que o padrastro influenciou não só Bruno como todos os irmãos a lutar. “Eu tinha acabado de largar o futebol e pensei ‘Vou encarar o desafio e ver no que dá’. Todo o processo de criação e a peça em si, que é mágica, me encantaram muito e o teatro passou a substituir a falta que o futebol fazia na minha vida”, lembra.

 

“Sou muito crítico, quando vou fazer alguma coisa tenho que fazer no mínimo bem, estar seguro e confiante”

 

Desde então, já vimos Bruno em papel de destaque em Malhação; no horário nobre como Iran, de Avenida Brasil, em que contracenava com Heloísa Perissé e Cauã Raymond; e, mais recentemente, como o pescador Juliano, de Flor do Caribe. De lá pra cá, veio a certeza de ter escolhido o caminho certo em meio a tantas dúvidas e opções. “Sou muito crítico, quando vou fazer alguma coisa tenho que fazer no mínimo bem, estar seguro e confiante. Então, no momento que decidi colocar o teatro na minha vida foi uma decisão muito concreta”, lembra. Aos 27 anos, ele está de novo no horário nobre como um dos namorados de Bruna Marquezine na novela das 9, Em família, de Manoel Carlos.

Bruno fez este ensaio para Tpm em sua casa na Barra da Tijuca, que escolheu por ser “um lugar mais íntimo, com tempero carioca”, enquanto curtia seus últimos dias de férias. Férias que foram agitadas, tendo direito a polêmica nos sites de fofoca. De passagem por Maceió, o ator postou no Instagram uma foto de uma praia com esgoto a céu aberto e uma legenda irônica. A brincadeira deixou o pessoal da cidade bravo, mas, no dia seguinte, a prefeitura local tomou providências pra mudar a paisagem. O buchicho na internet assustou um pouco. “Não dá pra agradar todo mundo, coloco ali o que penso. Uso a internet tranquilamente, como se estivesse falando com amigos.” Apesar do falatório, a resolução do problema veio também com uma carga positiva. “É muito louco isso, às vezes não me dou conta do poder que a gente tem. Nesse caso, pude ver que a gente tem poder de causar para o bem, mudar coisas em prol do Brasil e da sociedade”, diz. 

 

“Procuro buscar no teatro um lugar pra eu evoluir como profissional”

 

Namorado da atriz Yanna Lavigne, Bruno recorre à astrologia pra explicar a sintonia do casal. Ambos são sagitarianos. “A gente é do mesmo signo, então somos muito parecidos um com o outro. Temos muita liberdade, entendemos o espaço e a profissão do outro, além de sermos muito companheiros.” Os dois se conheceram no Carnaval do ano passado e, além da profissão, dividem o gosto pela praia e por seriados. O do momento é Californication.

Fã de James Franco, Ryan Gosling, Daniel de Oliveira e outros jovens atores, Bruno quer montar com amigos uma versão de Um bonde chamado Desejo, peça de Tennessee Williams vencedora do prêmio Pulitzer e eternizada por Marlon Brando no papel principal. “Procuro buscar no teatro um lugar pra eu evoluir como profissional. Essa peça, com personagens muito fortes, marcantes, é um superdesafio, é o que te faz crescer”, diz. Pensando bem, como publicitário e jogador de futebol, Bruno dá um belo ator.

Estilo Ana Hora Assistente Foto Pedro Farina Ele veste Short OsklenSunga Redley

Bruno Fagundes

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Conheci o Bruno na porta do teatro Tuca, em São Paulo, há dois anos. Fomos apresentados pelo seu pai, Antonio, e depois nos encontramos algumas vezes por termos amigos em comum. Um belo dia, fizemos uma leitura de Tribos, peça de Nina Raine a que o Bruno tinha acabado de assistir em Nova York e que estava determinado a montar no Brasil. Amei o texto: pulsante, atual, humano. Não por acaso estamos em cartaz com Tribos no mesmo teatro Tuca onde nos conhecemos.

Descobri neste “menino” um profissional exemplar e um talento latente, nato – e, sinceramente, isso é raro. Ele estimula todos que estão por perto a buscar sempre o melhor. É determinado, obstinado, do tipo que fica mal quando algo não fica bem em cena. E não apenas nas suas cenas, pois acaba tomando conta de todo o elenco. Um dia ele me perguntou: “Eu sou chato?”. “É claro!”, respondi. “E isso é ótimo! Continue assim.”

Bruno é dono de um carisma absurdo, sem falar da beleza exterior – e interior também. Além disso, é inteligente. Difícil não conquistar alguém. Ele tem fé em Deus, na vida e na arte. De seus poros exala uma certa bondade, uma compaixão digna de um grande ser. Sempre voltado pro “sim”, ele é firme na hora de seguir seus passos. Às vezes, parece uma criança, é engraçado.

Sinto que o Bruno é “algo bom” de ter por perto. Também é rico estar com ele em cena. Ele te olha nos olhos, respira junto com você, sente e troca todas as sensações. Parece que o coração dele bate junto com o seu, ajudando a contar aquela história.

Este menino-homem também tem muito bom gosto para se vestir. É do tipo que finge não estar nem aí, mas deve escolher a dedo cada camisa, calça, tênis, sapato, óculos e pulseirinha de couro que usa. Por outro lado, é uma “formiga”, adora os doces mais melequentos e trashes do mundo! Mas, para manter o figurino, só os cobiça, não os come – acho que ele cheira profundamente cada um deles, saliva bastante e depois sai correndo.

Só mais uma coisinha: este tal Bruno Fagundes pinta quadros incríveis, lindos demais, sensíveis e expressivos. Mas tem um problema: não gosta de futebol. Isso é péssimo! Talvez ele não seja tão legal assim.

ESTILO CARLOS PETI ASSISTENTE DE PRODUÇÃO EDILEUSA ARSÊNIO ASSISTENTE DE FOTO MAFÊ OLIVEIRA
LENÇOL MUNDO DO ENXOVAL CAMISETA MANGA LONGA NOIR CALÇA CALVIN KLEIN REGATA HERING CAMISETA OSKLEN

Bruno Fagundes

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Conheci o Bruno na porta do teatro Tuca, em São Paulo, há dois anos. Fomos apresentados pelo seu pai, Antonio, e depois nos encontramos algumas vezes por termos amigos em comum. Um belo dia, fizemos uma leitura de Tribos, peça de Nina Raine a que o Bruno tinha acabado de assistir em Nova York e que estava determinado a montar no Brasil. Amei o texto: pulsante, atual, humano. Não por acaso estamos em cartaz com Tribos no mesmo teatro Tuca onde nos conhecemos.

Descobri neste “menino” um profissional exemplar e um talento latente, nato – e, sinceramente, isso é raro. Ele estimula todos que estão por perto a buscar sempre o melhor. É determinado, obstinado, do tipo que fica mal quando algo não fica bem em cena. E não apenas nas suas cenas, pois acaba tomando conta de todo o elenco. Um dia ele me perguntou: “Eu sou chato?”. “É claro!”, respondi. “E isso é ótimo! Continue assim.”

Bruno é dono de um carisma absurdo, sem falar da beleza exterior – e interior também. Além disso, é inteligente. Difícil não conquistar alguém. Ele tem fé em Deus, na vida e na arte. De seus poros exala uma certa bondade, uma compaixão digna de um grande ser. Sempre voltado pro “sim”, ele é firme na hora de seguir seus passos. Às vezes, parece uma criança, é engraçado.

Sinto que o Bruno é “algo bom” de ter por perto. Também é rico estar com ele em cena. Ele te olha nos olhos, respira junto com você, sente e troca todas as sensações. Parece que o coração dele bate junto com o seu, ajudando a contar aquela história.

Este menino-homem também tem muito bom gosto para se vestir. É do tipo que finge não estar nem aí, mas deve escolher a dedo cada camisa, calça, tênis, sapato, óculos e pulseirinha de couro que usa. Por outro lado, é uma “formiga”, adora os doces mais melequentos e trashes do mundo! Mas, para manter o figurino, só os cobiça, não os come – acho que ele cheira profundamente cada um deles, saliva bastante e depois sai correndo.

Só mais uma coisinha: este tal Bruno Fagundes pinta quadros incríveis, lindos demais, sensíveis e expressivos. Mas tem um problema: não gosta de futebol. Isso é péssimo! Talvez ele não seja tão legal assim.

ESTILO CARLOS PETI ASSISTENTE DE PRODUÇÃO EDILEUSA ARSÊNIO ASSISTENTE DE FOTO MAFÊ OLIVEIRA
LENÇOL MUNDO DO ENXOVAL CAMISETA MANGA LONGA NOIR CALÇA CALVIN KLEIN REGATA HERING CAMISETA OSKLEN

Alexandre Cerqueira

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Alexandre Cerqueira vive um sonho da adolescência, de quan­do brincava de desfilar na passarela com as crianças da vizinhança na comunidade carioca do Quitungo (um braço da Vila da Penha, na zona norte), onde nasceu e ainda mora. Testemunha da violência e da dor que precisava enfrentar diariamente, ele perseverou até encontrar sua oportunidade em uma agência de modelos, aos 23 anos (hoje tem 36). Contudo, mesmo em seu sonho Alexandre é assombrado: o mercado da moda para negros no Brasil é “limitadíssimo e exige persistência”, como ele descreve. Mesmo carregando no rosto os traços angulados de um legítimo marfinense (seu pai é africano), com uma beleza não óbvia atraente ao universo fashion, é mais difícil para ele encontrar trabalho.

“Existe uma discriminação naturalizada no meio”, diz. “O racismo na moda é sutil, mas muito presente, está entranhado.” Quando Alexandre recebe uma negativa, geralmente justificada pela frase “você não se encaixa no perfil desejado”, ele precisa respirar fundo. “Até quando é algo para modelos negros, vejo que sou negro demais para o trabalho. Geralmente, um ‘menos negro’ é escolhido.” Ainda assim, ele nunca falta a um casting. Mesmo que tenha o perfil de passarela, por sua altura (1,88 metro) e seu peso, a maior parte dos seus trabalhos acaba sendo para catálogos e campanhas publicitárias. Por aqui, só conseguiu desfilar no Fashion Rio por duas vezes, para Complexo B e OESTÚDIO – ainda assim, era um entre dois negros –, mas nunca emplacou na São Paulo Fashion Week, seu sonho dentro do sonho.

Para ser mais bem aceito na carreira, ele precisou ir até o México, onde passou algumas temporadas entre 2008 e 2011, recrutado por uma agência internacional. Lá, participou da principal semana de moda do país. A diferença do mercado entre os dois países “é explícita e muitas vezes cruel”, descreve. Para perseverar, Alexandre se apoia no exemplo da mãe, dona Maria Damiana, que chegava a trabalhar em três turnos para sustentar oito meninos e duas meninas. “Só existe uma forma de viver, a honesta, conquistada através do trabalho.” Por isso, antes das passarelas, Alexandre experimentou outras profissões: foi catador de papelão quando criança, jogou futebol profissionalmente e foi militar na Aeronáutica (período em que aproveitava o tempo livre para vender bebida na porta do Maracanã e complementar a renda em casa).

 

“Até quando é algo para modelos negros, vejo que sou negro demais para o trabalho”

 

É da época de ambulante que Alexandre guarda sua pior lembrança do racismo. Em uma das idas ao supermercado para comprar mercadoria, seu cheque e seus documentos foram recusados sem motivo legítimo. “Criaram razões falsas para negar minha compra. Em nenhum momento alguém disse: ‘Não vamos vender porque você é negro’. Mas era exatamente por isso.” Alexandre entrou com uma ação judicial contra o supermercado. Levou cinco anos, mas ganhou a causa.

Apesar das dificuldades, o “muso” desta Tpm continua alimentando seus sonhos. Um deles se concretizará em breve: sua mulher, Aline, está grávida de três meses. “Sempre soube que seria pai e quero criar meus filhos aqui na comunidade”, afirma. Outro é encontrar o próprio pai, do qual sabe apenas que comandava a cozinha de um navio que partiu da Costa do Marfim no fim dos anos 70, quando conheceu dona Maria Damiana, que embarcou para a África em busca de condições melhores para os filhos que ficaram no Brasil (ela retornou por saudades dos rebentos e trouxe Alexandre na barriga).

A principal fonte deles, entretanto, é o cinema. Nos últimos anos, se a moda lhe trouxe alguma desilusão, os filmes lhe deram motivo para vislumbrar dias melhores. Basta tocar no assunto que a fala de Alexandre muda, se torna mais rápida, quase atropelando a respiração. Ele participou dos longas Paraísos artificiais (2012), Minha mãe é uma peça e S.O.S. – Mulheres ao Mar (2013). Neste último, ele fez seu maior papel, contracenando com Fabíula Nascimento. Ao perceber o próprio entusiasmo, o carioca segura a respiração, se desculpa e avisa: “Sei que esse caminho é mais lento, e até mais difícil. Mas tudo bem, não tenho medo. É mais uma vontade pra realizar”.


João Pedro Januário

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Ex-jogador de basquete e hoje fotógrafo, João Pedro Januário é o cara de quase 2 metros de altura que há seis anos conquistou o coração de Benedita Casé Zerbini, filha da apresentadora Regina Casé e do artista plástico Luiz Zerbini. Aqui, ela escreve sobre os talentos do moço – e se desmancha toda

Minha mãe brinca que a gente é como se fosse um casal gay. E ao longo dos seis anos de namoro eu cheguei à conclusão de que nós somos mesmo. Eu sou o oposto dele em personalidade, mas os nossos interesses são os mesmos.

O João é vaidoso demais. Ele é meu estilista, escolhe as minhas roupas, demora muito mais tempo para se arrumar do que eu… E quem sabe tudo sobre futebol e as datas dos jogos do Flamengo, o time dele? Eu, uma botafoguense doente. Por causa dele também acabei aprendendo os nomes de todos os jogadores da NBA, a liga americana de basquete – esporte que é sua maior paixão na vida, além da fotografia.

O João sempre foi muito sonhador. E muito apaixonado pelo que faz. Na época que era atleta, foi extremamente dedicado ao basquete, tanto que jogava três categorias e chegou a atuar profissionalmente no Flamengo. Mas aí, mais recentemente, ele descobriu a fotografia. Começou fazendo alguns trabalhos em still, de filmes e séries de TV. Depois, acompanhou algumas sessões de fotos de fotógrafos conhecidos, inclusive do Murillo Meirelles, autor das fotos deste ensaio da Tpm.

“Vou logo avisando: sou muito tímido, tá? Nada de fotos sexy”, ele disse, sorrindo, para o Murilo assim que chegou ao estúdio. Ele adorou o resultado, e eu também. Quanto à timidez, ele até tem se saído bem – a prova foi a participação dele no último SPFW, em abril, quando desfilou para o Alexandre Herchcovitch. O que ele gosta mesmo não é de ser fotografado, e sim de fotografar. Atualmente, ele trabalha no Esquenta! fotografando os convidados e os melhores momentos do programa. Além disso, cuidamos juntos da parte criativa e administrativa da marca de camisetas Alô Regina.

Quem não conhece o João acha que ele é marrento. Na verdade, é um cara totalmente pra cima. Mas se ele não for com a sua cara… aí babou (risos). Até porque ele tem 1,98 metro de altura. Só que o que ele tem de mais assustador também é o que tem de mais doce: mesmo sendo assim, gigante, ele é muito querido pelas crianças.

Eu conheci o João no colégio e desde lá a gente nunca mais se separou. Ele é do Rio, de Vargem Grande, e tem 23 anos. Apesar de ter repetido de ano três vezes, ele é um dos caras mais inteligentes que eu conheço. Quando me pediram para escrever este texto, pensei: “Pô, é uma oportunidade de me declarar para ele”. Então vamos lá.

Eu gosto do João porque ele tem o sorriso mais lindo do mundo, porque ele gosta de pagode, porque eu aprendi a cantar as músicas dos Racionais inteiras, porque aprendi a gostar de basquete, porque ele escolhe as minhas roupas, porque ele faz fotos minhas incríveis, porque canta muito mal, não tem a menor noção de ritmo e acha que é cantor, porque me leva pra andar de bike de madrugada, porque ama milk-shake de açaí, porque sempre quis ter uma Rural, porque torce por mim e me dá força em tudo, porque tem uma paciência fora do normal em repetir as coisas e me explicar quando eu não escuto, porque aprendeu a fazer leitura labial comigo, porque conta quantos postes tem no caminho de casa, porque tenta me ensinar a pegar jacaré (até hoje não aprendi), porque compra uma caixa de filmes do Scorsese e me obriga a ver todos, porque topa ir no show da minha banda preferida mesmo não sendo fã. Porque gosta das coisas que eu gosto.

*Benedita Casé Zerbini é carioca, tem 24 anos e está prestes a se formar em design pela PUC do Rio. Trabalha na produção do programa Esquenta! e é da equipe de criação e administração da marca de camisetas Alô Regina

Este é o Michel, meu irmão

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A fotógrafa Autumn passou o dia 17 de junho clicando seu irmão, Michel, em Cannes. Além das tatuagens do rapaz, ela revela aqui alguns segredinhos de família

Mesmo ele tendo 27 anos, três a menos que eu, ainda o chamo de meu irmãozinho. Crescemos juntos em Los Angeles, em uma casa bonita de estilo espanhol, paredes brancas e teto terracota, igual a várias do bairro. Mas saí de casa cedo e nós viramos adultos longe um do outro. Faz uma década que os encontros acontecem apenas uma ou duas vezes por ano, na ceia de ação de graças e nas férias. E agora, de repente, ele está aqui, com um corpo de homem, do meu lado e já faz um mês. Ele dorme no sofá, carrega a mala com minhas câmeras (cavalheiro!), assiste à Copa com meus amigos, lê no trem, xaveca algumas amigas e, claro, faz sucesso. Às vezes, quase não acredito que o menino que passava horas com os bonecos de Tartaruga Ninja virou um homem cabeludo que nada e corre mais rápido que eu.

É um homem que, talvez, se explique melhor através de suas tatuagens malfeitas. Quando Michel tinha 18 anos o levei para fazer a primeira tatuagem. Entre meus irmãos, quando cada um fazia 18 anos, tínhamos a tradição de tatuar o apelido de criança na pele. Nós todos temos nomes extravagantes (para dar uma ideia, meu nome completo é Autumn Querida, juro) e minha mãe achou elegante pôr nomes franceses nos meninos. Mas ela não cogitou o fato de o nome Michel soar incrivelmente feminino em inglês, e logo cedo ele insistiu em ser chamado de Meesh. Daí, no dia de seu décimo oitavo aniversário, fomos a um estúdio de tatuagem qualquer na costa Oeste da Flórida para que o apelido de infância fosse devidamente tatuado acima do bumbum. E, assim que terminou (veja bem, não estamos falando de uma tatuagem pequena), ele já disse: quero mais uma. E fez um tigre do tamanho do meu antebraço na perna. Ficamos umas 6 horas no estúdio. Michel sempre foi assim, afeito ao “quero mais”, não importa se é cerveja belga, uma moça bonita ou uma música boa. Se ele gosta, quer mais e ponto.

Ele tem outras tatuagens: a do James Bond no tríceps – a gente já viu todos esses filmes no mínimo uma dúzia de vezes nos últimos tempos. Talvez seja por isso que nos sentimos tão bem na Riviera Francesa, aqui tudo parece cena de filme do 007. Ele ainda tem “Pura Vida” escrito nos punhos, em homenagem ao sangue da Costa Rica que corre em suas veias pelo lado do pai. Tem uma serpente e a palavra “brother”, feita para nosso irmão que faleceu. Tem uma enfermeira zumbi feita para a ex e mais uns outros desenhos cafonas espalhados pelo corpo. Quase todos feitos para alguém ou para algum momento específico. Porque, como disse, quando Michel quer mais, ele tem mais. Nada está ali 
porque é bonito, e isso tem sua beleza.

Estas fotos são um registro de um daqueles dias bonitos e sem fim. Uma terça-feira ensolarada na casa de amigos em Cannes. Ele acordou no futon com a mesma cara de sono de sempre. Aluguei uma moto pequena (gente, que liberdade é ter uma moto na Costa Azul!) e insisti para que ele mergulhasse mil vezes na água transparente. Fomos até Ventimiglia, na fronteira Italiana, o fiz sofrer na ducha gelada e fomos comer massa e sorbet de limão com vodca antes de pegar a estrada de volta para a França.

 

“É gostoso ver Michel no mar, ali ele vira bicho. Só quer saber da água, da areia, do frisbee e do sol”

 

Michel sempre foi um menino do mar. Pega onda, foi salva-vidas e professor de natação durante a faculdade em San Diego e ainda joga polo aquático. Tem uma braçada bonita. É gostoso ver Michel no mar, ali ele vira bicho, não quer saber de canga, de protetor, de piquenique. Só quer saber da água, da areia, do frisbee e do sol. Em breve vai começar a trabalhar em um veleiro brasileiro, vai aprender sobre vento, vela e mar aberto.

É engraçado ter uma desculpa para ficar olhando para o corpo do próprio irmão por tanto tempo. Nossa família não é muito tradicional, mas tampouco somos da turma liberal hippie, ou seja, nada de andar pelado de um lado para o outro em casa. Os americanos são meio puritanos, a gente se cobre. Mas daí, um dia, liga uma revista do Brasil e pede pra você tirar a roupa do próprio irmão. Primeira coisa que me veio em mente: como vou contar isso para a minha mãe? De repente, entendi toda a conversa com as moças que já posaram para mim sobre “o que a família delas vai pensar”. Epifania total. Fora isso, é uma forma de olhar no espelho. Penso: “Nossa, se eu fosse um homem peludo assim a gente ia ser igual!”. Temos o mesmo cabelo, os mesmos olhos, o mesmo jeito de ficar parado com a barriga pra frente, a mesma queda por tatuagens toscas. Nunca tinha me dado conta disso.

Michel nunca foi de muitas viagens, sempre ficou mais pelos Estados Unidos, mas agora anda com caderninho e caneta anotando conjugações de verbos em português. Essa é outra coisa que temos em comum: o sonho das mulheres na natureza, o sonho do Brasil. Em breve ele desembarca por aí, meninas, preparem-se!

Julio Andrade

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No mês em que estreia no cinema vivendo Paulo Coelho, o ator Júlio Andrade tira a roupa com uma condição: não olhar para a lente, mas para sua musa, Elen. Inspirados em Serge Gainsbourg e Jane Birkin, o casal mostrou que, se é pra se despir, é pra se despir de verdade

A primeira vez que vi Júlio, ele ficou nu. Foi no cinema em 2007. Sem cerimônia, ele protagonizou cenas quentes sem muitos cortes – cenas que chocaram algumas avós, inclusive a dele. Sob o olhar sensível do diretor Beto Brant, o Brasil que prestigiou o filme Cão sem dono – tachado como alternativo – conhecia um ator novo, gaúcho, magrelo e de nítida entrega cênica. Ele já havia estado em outros filmes e peças, mas era a primeira vez que encarava um protagonista. Um menino interessante? Um homem com algo frágil? Era impossível saber. Júlio era Ciro, o personagem; assim como foi Arturzinho, mordomo gay na novela Passione. Ator, se transforma no que representa de tal maneira que consegue não ser reconhecido na rua. “Tomo a pílula da invisibilidade”, brinca.

 

"Não tenho grandes pretensões... ser famoso? Hollywood? Grana? Não, quero é fazer personagens que eu curta e ter outro filho"

 

Júlio já foi Raul Seixas, em Por toda minha vida, da Globo; foi Gonzaguinha, no filme Gonzaga, de 2012; e agora é Paulo Coelho, no filme Não pare na pista, em cartaz a partir deste mês. Também está na televisão como Oswaldo, o jornalista esquizofrênico de O rebu. Mas fora da tela ele é Julinho, amigo do Grampá, parceiro do Daniel, marido da Elen e dono de um cachorro imenso que se chama Pessoa. Um cara pouco afeito a holofotes, que arrisca o piano, teve banda com os amigos e que, ao se apaixonar por uma moça grávida, assumiu uma filha que não era sua. “Nesse dia me senti poderoso. Fui contra muitas coisas para assumir a Antônia [hoje com 9 anos]. Eu escolhi ser pai dela e isso foi forte”, conta. Julinho é claramente orgulhoso de si e dos seus, ama e se rasga pelos amigos. Dentre eles os atores Daniel Oliveira e João Miguel. Julinho é um cara com quem queremos tomar uma cerveja para falar dos planos futuros. “Não tenho grandes pretensões... ser famoso? Hollywood? Grana? Não, quero é fazer personagens que eu curta e ter outro filho, ou, melhor, mais de um”, conta enquanto fuma alguns cigarros e toma café sentado no balanço sob uma mangueira no quintal de sua casa em São Paulo.

 

"Sean Penn é galã, Serge Gainsbourg é galã. Eles têm um charme escondido e sabem lidar com as mulheres de um jeito delicado"

 

Pessoa, o cão, nos cerca. Quebra uma xícara e derruba o gravador. Depois de tomar uma bronca, se retira. Julinho mostra orgulhoso sua pequena horta e as mudas da mangueira, enquanto elogia a gentileza de Tony Ramos e o trabalho de equipe de O rebu. “Ali, não sinto o ranço da TV, é uma galera do cinema com a estrutura da televisão”, comenta. “O José Villamarin [diretor] é demais, entende o tempo do ator, e o Walter Carvalho [diretor de fotografia] foi simplesmente quem deu a cara para o cinema nacional.” Nessa hora ele já estava soltinho, mas não foi assim desde o começo. Julinho é desconfiado, sabe que o mercado adora consumir celebridades. “Qual vai ser a desta entrevista?”, perguntou no início da conversa. Mas, com a fluência do papo, ele relaxa. Elogia o irmão Ravel, 15 anos mais novo e que começa a despontar na TV e no cinema. É ele quem faz Paulo Coelho mais novo no filme recém-estreado. “Ele é o caçula de quatro e eu sou o mais velho. Ravel sempre foi esse moleque feliz. Esse filme foi nosso reencontro em grande estilo. Eu saí cedo de Porto Alegre.”

Julinho conta que saiu da casa dos pais aos 18 anos para morar com uma namorada. Guardou uma grana a duras penas para comprar um carro, depois vendeu para ir morar na Cidade Maravilhosa. “Era meu sonho morar no Rio. Eu andava com uma foto dos meus pais no Cristo Redentor na carteira”, lembra. Curtiu os ares cariocas, gastou tudo que tinha, mas não se apaixonou pela vida por lá. Voltou para Porto Alegre e pouco tempo depois surgia nu na minha frente no cinema, contracenando com Tainá Müller, outra estreante à época e com quem, posteriormente, namorou. Ele dividiu a opinião do público sobre ser ou não ser um gato. Pergunto o que é ser galã e, depois de um longo silêncio, ele crava: “Sean Penn é galã, Serge Gainsbourg é galã. Eles têm um charme escondido, sabem se movimentar, têm mistério e sabem lidar com as mulheres de um jeito delicado”. Concordo, e sob essa perspectiva Julinho é sem dúvida um galã. O jeito como ele se curva quando sorri e como cresce ao olhar para a mulher dão ares de bonitão a um rapaz camaleão, ora franzino, ora gigante.

 

"Preciso de 10 minutos para entrar em cena e mergulho no personagem. Isso até já me atrapalhou, hoje sei separar mais as coisas"

 

Para tirar a dúvida, Tpm chamou Julinho na chincha. “Queremos você pelado”, fomos direto ao ponto. Sem receio ou uma lista de exigências, ele topou. Nossa arma foi garantir atrás da lente a amiga e parceira Carol Quintanilha. Com ela, Julinho sabia que não seria um modelo, mas sim parte da equipe. “Gosto do cinema porque é uma coisa de grupo”, diz. De fato, apenas entrar pra gravar e cair fora não é pra ele. “Preciso de 10 minutos para entrar em cena e mergulho no personagem. Isso até já me atrapalhou, hoje sei separar mais as coisas”, diz. Foi por isso que para o nosso ensaio Julinho encarnou um personagem. Criou um artista, pintor, fotógrafo entorpecido por sua musa. A inspiração foi Serge Gainsbourg e Jane Birkin. Garantiu que a seco seria inviável. Julinho enquanto Julinho é pacato, família. Este que você vê aqui tem algo dele, claro, tem o olhar parceiro e apaixonado por sua musa. Mas talvez, ao encontrá-lo na rua, você não ligue o nome (e a bunda) à pessoa. Não se avexe, Julinho toma a pílula da invisibilidade.

Victor Brandi

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Este é o Victor, meu amigo, meu bróder. Casado, safado e pai de família, ele faz o tipo homem dos sonhos. E morar em Cannes é apenas um detalhe

Eu conheci primeiro a mulher do Victor. Mariana era amiga de um amigo e apareceu numa daquelas noites cariocas de 38 graus em um bar qualquer da Lapa, de minissaia e sorriso largo. Uma hora depois ela estava nua nos trilhos do bondinho dos Arcos da Lapa para eu fotografar. Naquela mesma noite Mariana disse que eu precisava conhecer seu namorado. Precisava mesmo. E não esperei muito. No dia seguinte apareci com as minhas câmeras no apartamento em que moravam, num prédio cor-de-rosa antigo no quarteirão da Praia do Leblon. Ele me deu um beijo e uma salada com granola salgada ao curry. Uma hora depois fez um amor safado com ela no sofá de couro preto, na frente da imensa janela, para eu fotografar. Esse é Victor Brandi, o moço que você acompanha nas páginas a seguir.

Ver esse homem transar com sua mulher foi algo muito especial. Uma das coisas realmente carinhosas: ele lambeu o pé dela devagar, a levantou com delicadeza e acariciou seu rosto com uma ternura que geralmente se reserva a filhotes de gato e bebês que nasceram há menos de uma semana. Mas sabe ser safado, claro. Bate quando ela pede. É um menino bastante forte, já foi campeão de remo, fez ginástica olímpica e tem uma força braçal que faz as meninas tremerem. Ter um terceiro elemento durante o sexo não é novidade pra eles, às vezes levam outras moças para a cama. As deixam felizes e ainda as convidam para tomar um suco de graviola com kiwi numa esquina próxima. 

 

Ele lambeu o pé dela devagar, a levantou com delicadeza e acariciou seu rosto com ternura

 

Talvez agora seja um bom momento para contar, o Victor é chef de cozinha. Começou em restaurantes finos do Rio de Janeiro, como Zaza e Le Pré Catelan. É um menino esperto, aprende rápido, presta atenção nos detalhes, cozinha muito e come mais ainda. É guloso com a vida. Fica 2 horas fazendo compras em cinco mercados diferentes e 3 horas com a barriga no fogão para fazer um prato de purê de alcachofras com ganache de queijo de cabra e risoto de açafrão, que ele come em menos de 5 minutos e, depois, limpa o prato com a crosta do pão. Há um ano e meio Victor e Mariana se mudaram para o sul da França. Perseguiram o sonho dele de trabalhar num restaurante estrelado. Arranjou um emprego no Vila Archange, então, fizeram as malas e partiram para Cannes, onde virou sous-chef do bistrô.

Convivo com esse casal já faz cinco anos. Depois daqueles dias em que passei registrando a safadeza deles, viramos melhores amigos. Os chamo para serem modelos nos meus trabalhos de publicidade de vez em quando, eles dormem na minha casa quando estão em São Paulo e eu durmo no futon deles quando estou em Cannes. Já passei por todos os lares onde eles viveram: primeiro pela casinha no Leblon, depois, por vários fins de semana, no apartamentinho de dois andares em Copacabana e, mais
tarde, pela casa ensolarada mais deliciosa da Urca. Agora, pego o avião até Nice toda vez que posso e eles me buscam no aeroporto, com o bebê no colo e um sorriso no rosto. 

 

Victor presta atenção nos detalhes, cozinha muito e come mais ainda. É guloso com a vida

 

Parece muito fino falar que moram no Leblon e na Côte d’Azur e todo esse lance de ponte área intercontinental. Mas no fundo eles são hippies, o Victor trabalha 14 horas por dia e eles guardam as cascas dos legumes no freezer para fazer a comida dos gatos. Plantam flores, legumes, separam o lixo. Cuidam do mundo para que o mundo cuide deles. A Mari é a minha amiga, a gente toma sol na praia, fala de amor, de cremes, de literatura e de biquínis novos. Mas Victor é meu bróder, a gente cozinha junto, vamos ao cinema para assistir filmes de Hollywood, tomamos vodca direto da garrafinha, pedalamos e sentamos na orla para ver as mulheres passando. Os vejo trepando, fazendo xixi, vi a filha, Gaia, nascer no chão da sala e acompanho de perto o processo de abertura do café que em breve será um dos lugares que mais frequentarei em Nice. Esse casal encara a intensidade da nossa amizade com a maior naturalidade. Eu também. 

Hoje, eles vivem numa daquelas vilas construídas no final do século retrasado, num bairro árabe de Cannes, com um jardim grande, ar decadente, dois gatos e a filhota. Todo dia de manhã, Victor pega a bicicleta pintada com as cores do Brasil e vai para o restaurante preparar o almoço, mas volta para casa para comer com a família. Então, pega a bike de novo e volta pro trabalho. Sim, o Victor faz bem o tipo homem dos sonhos

Paulinho Vilhena

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Amiga, colega, admiradora. A atriz Martha Nowill revela o que está por dentro de Paulo Vilhena, esse ator que entrou em nossas casas pelo seriado dominical Sandy & Junior, em 1998, e agora vive o doidinho da novela no horário nobre

Acordei pálida, tremendo. Naquela manhã, eu, Maria, Caio, Julinho, Carol e Paulinho deveríamos deixar São Francisco Xavier, após um mês de filmagem do longa Entre nós e um porre coletivo de despedida. Enfiei as roupas sujas e a minha dificuldade de lidar com o fim da nossa convivência dentro da mala e, antes de abandonar o quarto da pousada, achei sobre o capacho da porta um livro deixado por Paulinho. Era o livro de poemas de seu pai, Sergio Vilhena, Ser errante, ser natural. Aquilo significou muito para mim, sei que em algum momento da noite ele quis encontrar um gesto de amor, algo que mostrasse o quanto nossa vivência no filme foi especial para ele. Em troca escrevi uma carta quilométrica e parti. Totalmente apaixonada.  

Porque, sim, eu sou apaixonada pelo Paulinho. Eu, o cara do posto, as minas da maquiagem, o microfonista, o boom, a câmera, as garçonetes, os garçons, os engenheiros, a minha mãe, o seu pai, as nossas tias. Em primeiro lugar porque ele é lindo. E porque tem um cuidado com as pessoas a sua volta que é quase irreal. Tem também um senso de responsabilidade e uma forma amorosa de estar no mundo, e, mais, quer sempre melhorar. Perguntei ao telefone: “E esse personagem da novela, hein, Zinho, esse louco, você não ficou com medo de canastrar? Morro de medo de fazer uma louca e ficar canastra”. E ele respondeu: “Zinha, sabe que nem pensei nisso? Essa temática é tão fodida, tão importante”, e continuou falando sobre como aquele personagem (Domingos Salvador, da novela Império) ia atingir o público, sobre a parte social da novela. Enfim, eu numas de vaidade de atriz e o Zinho pensando em mudar o mundo. Entende o coração desse homem? 

Mas o bicho pega mesmo porque o Paulinho é bom desse jeito, mas faz uma cara de bad boy de vez em quando que é de ferrar qualquer mulher desavisada. E surfa, hein, exibindo uma tatuagem linda no ombro direito. E vai na onda do diretor, do elenco, bicho intuitivo com anos de experiência, olho no olho. É uma loucura contracenar com ele. No meio de tudo ainda pode vir com uma tesoura e cortar a ponta errada de um figurino da colega de elenco por achar que não ia imprimir bem. Lembra, Maria Ribeiro, quando antes de começar seu take mais difícil do Entre nós ele leu uma carta, falando dos seus filhos, pra você entrar na cena com tudo? Eu lembro, foi bonito demais. Lembro dele também me ajudando a ficar tranquila antes de ter que mostrar os peitos em cena. Falando em peitos: “E esse ensaio sensual, hein, Zinho, tá animado?”. Ele responde: “Muito animado, vai ser legal, mas o Julico é foda, ficou mostrando a bunda, né, e agora?”. “E vai fazer o quê?”, respondi às gargalhadas. “Vou fazer um monte de agachamento”, ele disse. “Sério? E funciona?” “Claro que não, vou continuar com meus exercícios, comendo direito, como sempre fiz, e tá tudo certo.” “Ah bom”, suspirei aliviada. E ele emendou: “E diminuí bem o álcool, depois da Oktoberfest sem fim que foi a Copa. Resolvi dar um tempo, agora só no fim de semana”. “Que bom”, respondi já com uma ponta de culpa do champanhe da noite anterior.

E ficamos nessas conversas picadas ao telefone, 10 minutos aqui, 10 acolá, nas brechas da nossa agenda frenética. Paulinho me contou que queria ter tido um filho antes de seu pai morrer: “Pra ele sentir o neto no peito, sabe? Acho que a gente vem ao mundo para ter esses encontros com nossos familiares e amigos”.

Mas, como bom Paulinho que é, na hora que viu que não ia rolar, se apaziguou. Tem tido sonhos fortes com o pai, acordou chorando dia desses. Continua querendo um filho, mas tá focado no trabalho, arrebentando no novo personagem. E no teatro, onde ele e a Fê Rodrigues bancaram a montagem de uma peça sem grana, Tô grávida!, e estão tendo um retorno lindo, bilheteria, público vibrante. Que lindo, Paulo, você merece realizar esse sonho de todos nós, atores.

E eu aqui, contando os caracteres e pensando que antes do fim do texto preciso encontrar um defeito nessa unanimidade que é Paulo Vilhena pra não ficar só babação. Ah, lembrei uma história bem queima filme. Desculpa aí, Zinho, vou ter que contar para humanizar um pouquinho a jornada do herói. 

 

Ele está sempre pronto para não deixar a peteca cair, a festa acabar, o caldo amargar

 

Eu e o Paulinho num fim de noite em São Chico: tínhamos feito uma batida de maracujá depois que a cerveja desaparecera goelas abaixo. Acaba a batida, mas a festa em nós, não. E ele, sem o menor constrangimento, pede que eu recolha os restos de bebida nos copos da galera. Joga tudo no liquidificador. Liquidifica. Procura o gelo. Não tem, só uma daquelas bolsas de fisioterapia que ficam no freezer. Joga ela dentro, dá cinco minutos pra gelar e serve a iguaria em copos. Eu, chocada, nem por um instante hesito em beber e continuar dançando enquanto ele passa a bandeja pela sala.

Essa é a imagem que eu tenho do Paulinho, sempre pronto para não deixar a peteca cair, a festa acabar, o caldo amargar. E é tudo de verdade, orgânico, sem agrotóxico, já que ele não precisa fazer o menor esforço para ser assim.

“Olhar de perto o teu céu aberto.” Esse é um dos versos que está no livro do seu pai. E é isso que você é, Zinho, um céu, de peito aberto, com uma abóboda apinhada de estrelas ou raios incandescentes, depende da hora do dia que se olha para você.

Vai lá: Paulo Vilhena já esteve no ensaio da Tpm, em abril de 2004. http://goo.gl/fgDty9

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